domingo, 26 de abril de 2009

sim, é preciso.


É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.



(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poema da Necessidade. In: Sentimento do Mundo)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O que há de admirável no fantástico é que não existe mais o fantástico: só há o real (2)

do Surrealismo.

inusitadamente, parte 2.

Um assalto a um cabeleireiro na Rússia está a mobilizar a polícia. O crime envolve o assaltante e a cabeleireira do estabelecimento assaltado.
A cabeleireira, identificada como Olga, de 28 anos, viu o seu salão invadido por um homem na passada terça-feira, dia 14. Olga, experiente em artes marciais, conseguiu dominar Viktor, de 32 anos, e levou-o para uma sala reservada. No entanto, não chamou a policia.
Olga obrigou o assaltante a tomar Viagra para depois abusar dele várias vezes durante os dois dias seguintes.
Quando foi libertado, o assaltante dirigiu-se ao hospital para curar o pénis «magoado» e depois à esquadra para registrar queixa contra a cabeleireira que, por sua vez, só no dia seguinte registrou queixa contra Viktor por assalto. No entanto, a história confunde-se ainda mais porque a policia não consegue ter a certeza sobre quem é o verdadeiro criminoso deste caso de assalto.

*matéria retirada do site http://www.tvi24.iol.pt/geral/assalto-russia-cabeleireiro-tvi24/1058236-4207.html


Olga é um ícone!
Esse é o tipo de notícia que eu um dia esperava. pelo estrondo, pela graça, pelo prazer, pelo sangue meu, de minha mãe, minha avó, minhas tias, e de tantas outras, todas as outras....
Mas confesso que muito mais pelo prazer e pela graça de saber que ela fez o que eu não teria coragem de fazer, mas que meu espírito enquieta-se de um tanto imaginando como seria bom realizar tais peripécias... E não, não pela satisfação de meus desejos, mas o desejo da inversão. O opressor virando oprimido. Porque... por que fazemos com os outros aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco? Por que é tão difícil colocar-se no lugar do outro?
Confesso (2) que é um sentimento sórdido, nem eu mesma o aprovo. Até porque nunca consegui executá-lo. Alguém tinha que fazer o trabalho sujo. Olga.
Agora Olga também paga um preço.

- Oi, linda..posso te conhecer?
- Ops, dá licença..
- Oh, morena, é rápido! - solavanco na cintura dela e a puxa pelo braço tentando se aproximar ao máximo de seu rosto
- Ei! Pára! - desprende-se com dificuldade do maroto.
- Ihhhh, tá nervosinha, é?? Nem queria merrrrmoo! (mal-comida!)

Em outro site, o assaltante é visto como um "pobre criminoso que só queria roubar umas coisinhas";
em todos eles a polícia, que coisa, não sabe quem é o verdadeiro criminoso;
e é lançada, descaradamente, a seguinte pergunta: "Mas o maior beneficiado a gente já sabe, né, Viktor?"
Quer dizer...
vai demorar tanto tanto tanto pra esses bicho virar homi... nem salão de beleza dá jeito.

sábado, 18 de abril de 2009

° O que há de admirável no fantástico é que não existe mais o fantástico: só há o real.


do Surrealismo.

Automatismo psíquico pelo qual alguém se propõe a exprimir seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de qualquer preocupação estética ou moral.

° Reduzir a imaginação à escravidão, mesmo que se tratasse do que grosseiramente se chama de bondade, será privar-se de tudo aquilo que se encontra no âmago de si mesmo, de justiça suprema.

° Os processos lógicos, de nossos dias, só se aplicam à resolução de problemas de interesse secundário. O racionalismo absoluto que continua na moda só permite considerar fatos de pequena relevância de nossa experiência. Os fins lógicos, ao contrário, nos escapam. Sob as cores da civilização, a pretexto de progresso, chegou-se a banir do espírito tudo aquilo que, com ou sem razão, pode-se classificar de superstição, de quimera.

[ Eu quisera dormir, para poder me entregar aos que dormem, como me entrego aos que me lêem, com os olhos abertos; para deixar de fazer prevalecer nesta matéria o ritmo consciente de meu pensamento.]


(BRETON, André. Manifesto do Surrealismo 1924)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

que santa que santa que santa qual nada é a minha religião.
que medo que medo que medo de fazer feio o que é corão.
desejo
alimento
exorcizo
invado
desacredito
que razão ou posição que lhe confere destaque é suficiente para coibir os meus atos ou palavras que não cabem que amarrotam-se nos seus livros?
pois que para sabotá-lo tive de conhecê-lo.
itabirano que disse "como é triste ignorar certas coisas" entendia do sofrimento alheio e o que estava em seu meio; como é fácil ver meu-teu corpo rasgando-se em pontos de interrogação qual bicho
qual bicho interroga-se?
bicho-eu que tem mania por querer saber das coisas e dos ventos e pra onde sopram eles e por quê sopram e de onde foram soprados leva o barco para além do horizonte que para lá também existe sim, o mar. onda que leva para lá e traz para cá. do mar.
e trouxe a civilização.
e trouxe os bons costumes.
a religião-obrigação.
o casaco de pele.
a pólvora.
e levou a organização.
e levou os bons valores.
a cultura pagã.
a tanga de neve.
a coragem.


*ainda há o que dizer, mas não há mais tempo.

uma páscoa regada.
com o que lhes convir, macacada.


segunda-feira, 6 de abril de 2009

em que movi?

movimento.
dança das árvores.
lua que ilumina a relva e a selva.
olho que olha a selva de dentro dos meus olhos girando entre ira e afeto, pois que para haver história que se desenvolva é necessário conflito isso e aquilo me move comove absorve cria movi.
o menino que dorme na calçada não possui mais que uma micro-análise, um ato apenas. o menino que dorme na calçada parece triste e me move para o outro lado e me comove a selva e me absorve sempre até ficar triste.
desta fenda em que está agarra-se a que?
saudade, saudade, saudade...
na selva, no baixo ventre, no movi.