terça-feira, 23 de novembro de 2010

Teoria B.

, coisa que acontece quando se compra biscoito achando ser ele salgado, e, no entanto, ao dissolver da guloseima percebe-se que se enganara na compra. Pela embalagem - tinha toda cara de ser doce. Será um susto por que passaremos muitas vezes durante...o desenrolar do óbvio - o rolo, fazendo o contrário do enrolar, que assim estamos em começo de vida. Não importando, neste caso, onde se inicia tal coisa, já que de zigoto a feto, me parece estarmos todos de lá até cá desenrolando-se. Basta imaginar a sequência dos fatos. Enfim, somos também, algum dia, a embalagem distorcida de outrem. Falo dos que são acometidos pela impressão e não dos que a usam por maldade ou fim. Aqueles, sofrerão injustas ofensas pela força da situação, como diria alguém, Poxa, eu pensei que delcrano fosse tal coisa, um ícone, e sem terminar, trêspontinhos suspensos no ar - o que entenderemos que diria, muito provavelmente, Mas não é.
Já embalei muitas pessoas, e acredito já ter sido embalada, e sim. Difícil deixar de. É preciso treino para remover o hábito. Na vida não há nada que se pense de alguém que não tenham pensado sobre si. Ainda que não seja verdade.
(Teoria do biscoito - somos um, e também uns dezoito.) 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Efemerização

Há o tempo morto, o antigo,
o divertido, e há dias...
Há dias sinto-me assim,
outrossim, assado.
Se frito em um,
noutro será panquecas.
Porque chove a janela do apartamento
enquanto calada, a da alma, inunda por dentro?
quero maçãs corridas
distúrbio de paredes
corram as avenidas, pois desejo todos e por todos clamo
tornar pública o cárcere privado
que cárcere não o é?
precisamos.




(como se faz pausa na prosa?)
Parem de ler. Reparem. Escutem as letras
corridas
maratona do olhar.
Volta a correr, desafia o instinto imutável
Brota motivação não-sei-de-onde.
Às vezes, sou cão.
Sacudo as orelhas, espreguiço para trás, durmo por 45 minutos.
Quando não sou livro.
Do alto é legal, de lado enxergo quinas
e na tarde aparo-as:
ex-quinas; ser algo que ser quer em decorrênciaa
de tempo
desgaste ou solução.
Nunca deixarão de existir,
entretanto. Formar-se-ão continuamente, entre um aparo e outro.
Estas ex-quinas em muito se assemelham às esquinas.
Estas, por determinarem os encontros nas ruas.
Aquelas, os encontros que se dão em si, na sua.

domingo, 26 de setembro de 2010

FIM DO DIA NO SERTÃO:
a casa é rosa
a muqueca é já gélida
o coração estrônfica até
que - após acenderem - as luzes
se apaguem
não é dia
os ventos se deslocam:
estão fazendo frio no estalar do sertão,
que espera amanhecer.
assim também revolve meu coração,
como no meio de ciclones.
vira-voltando meus ventrículos,
desorganizando-os.
estão fora de hora,
é primavera, é vento de mar.
é.
mas está tudo
fora      de
estatuto
meu coração é mar de ventos
ciclones à prima velha
sertão de mim em cheio.

domingo, 22 de agosto de 2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Do dia em que resolvi pular na piscina de lama.

Fui sozinha.
Minhas mais importantes decisões, tomei-as sozinha.
Era tarde de primavera, provavelmente.
Em frente à nossa casa havia três ou duas grandes bacias dentro da terra.
Meu pai quem fez. Bom, não foi ele quem cavou-as mas foi ele quem elaborou o plano de sugar a lama do mar da ilha, que era jogada em uma daquelas bacias.
Durante todo o ano havia motivo para brincar lá. Quando estava menos quente (porque lá não fazia frio), a lama amolecia. E podíamos desfrutar de todos os estágios do amolecimento.
No seu mais alto grau, nadávamos barrentos pela bacia, melando-nos... Ba-nho de la-ma. Ah! que delícia. Tão engraçado escorregar enlameados! Corrida de barros! Secar e virar crosta de terra molhada! Ser um incrível monstro barroso! Chegar em casa, e dar a volta por trás para não sujar a casa toda... -menina! tá parecendo um moleque!, dizia a minha mãe.
Quando nem tão mole, nem tão dura, guerradelama era a brincadeira preferida! Uau! Fui bem treinada, ao lado de meus irmãos mais velhos do que eu, e seus amigos, garotos nativos dali.
Sozinha, arriscava desenhar panelas, potes, bonecos, que figuravam histórias desertas para mim mesma.
Da lama seca, rachada, achava graça em correr correr sem cair em suas fendas...ou, correr correr e cair em alguma região de falsa secura.
Então, era tarde de primavera quando resolvi sair de casa para ir até à bacia de lama à procura de qualquer aventura. Fui preparada, de biquíni, e obstinada.
Cheguei à beira, estava amolecida e não hesitei um minutinho sequer sequer.
Strashh! Pulei "de com força", como dizem por aí, e bem na hora em que meus pés enterraram-se, senti uma senhora fisgada no pé esquerdo. Nem pensei, assim que não mais afundava arrumei logo de desenterrar-me, dos joelhos abaixo, e sem olhar, sem pensar, fui direto, correndo para casa, ou melhor, mancando, ou pior, qual saci pererê! Não tive coragem de olhar, embora continuasse sentindo as fisgadelas, e segui em frente em um pé só dando graças que não teria muito o que percorrer.
Estava aguentando bem, até que ao passar o portão de casa meus pais estavam ali, na varanda...
E de um rompante, estrondei um choro esganiçado como quem estava por morrer de apendicite. [Alguém uma vez me disse que nunca havia tido esse tal de apêndice. Mas que certamente era algo terrível, afinal, um nome como aquele só poderia resultar em dor profunda.] Daí em diante tudo se embaralha na minha memória, mas foi um estardalhaço, um disse-me-disse, um reme-reme, um éculpasuaéculpasua, um aimeudeusaimeudeus a-filha-também-é-sua.
Todos devem estar se perguntando: -o que foi que aconteceu??? - Perdeu o pé, o dedo, a unha?
Rs. Na verdade, foi um corte! Profundo! Inesquecível! Tá, vai. Foi um corte, superficial, mas de fato, inesquecível. Pelo seguinte: o corte deixou um pedaço de pele minha sambando pra fora do meu corpo, aparecia até a carnitcha, e tivemos que fazer o curativo com ela mesmo. Decorridos poucos dias da cicatrização, digamos que a pele apodreceu... meu pai veio me dar a notícia de que era preciso cortar, -não!, me explicou por quê era preciso cortar, -nem pensar!, insistiu (com calma) que era necessário, -vai doer!, -a pele tá morta, filha, - mas dói!, blábláblábl..., -não!não!não!não!
E tudo o mais que meu pai dissesse não me convenceria a me arrancar de mim mesma.
Resultado: o pedaço de carne pendurado se reagrupou ao meu ser do jeito que lhe foi conveniente. E algum dia, fui até ao local para verificar onde eu tinha enfiado meu pé. Como a bacia ora estava mais cheia, ora mais vazia, o dia em que me machuquei estava justamente mais cheia e não deu pra ver a tubulação por onde a lama chegava. Meu pé raspou a boca do cano, que não estava em bom estado.
Tá, mas e aí? Sei lá, cara. Acho que sou assim até hoje, vou ali, rodo, passo por trás, quebro, choro, sacisaci, dancei, eagoramãe?, bola-da-vez, seteoito, sambarei, conseguirei, estrearei, voarei, serei.
Voltar? Só pra espiar em que lama eu não me jogarei.

terça-feira, 15 de junho de 2010

que eu, desenxergue.

De tanta clareza, desenxergo.
o saber é inútil.
tenho medo de tudo.
e se não consigo,
se perco,
se arrependo, perco
se perco,
anh?
qual o problema do silêncio?
não, ele não é vazio.
Sê vasto.
Vocês são vazios.
há silêncio em todo lugar poro canto fresta rua
preenchido por milhões de significados,
rostos, por quês, senões, não-queros,
deixa-pra-lás, burros, caralhos, ais,
pra quê servem as palavras? As palavras
nas bocas das pessoas de nada servem.
é lixo; lixo desenxergado.
Eu desenxergo Nós desenxergamos
Tu desenxerga Vós desenxergais
Ele desenxerga Eles desenxergam
Vê(s)?
Em breve,
Lei 4.859.163/2036
proíbe desenxergamento em casos de:
I - Negligência,
podendo ter a pena diminuída se o réu comprovar pura ignorância do ato de negligência.